____A disciplina de Relações Internacionais tem desempenhado um grande papel na produção científica sobre diferenciados temas, abordando questões culturais, econômicas, políticas, ideológicas, metodológicas e meta-teóricas. Para Bedin (2004), o resultado da evolução disciplinar das relações internacionais, no século XX, permitiu que se elaborassem modelos teóricos interpretativos, e que os mesmos fossem designados de paradigmas. Ao entender o paradigma como uma visão e interpretação dos fenômenos internacionais amparado por um método, podemos enquadrar o Realismo como sendo um dos principais paradigmas das Relações Internacionais.
____Gilpin, em seu artigo The richness of the Tradition of Political Realism, afirma que o Realismo deve ser visto como uma disposição filosófica, e não uma teoria científica no senso stricto, neste sentido o autor critica alguns teóricos neorealistas pela demasiada busca pela cientificidade da disciplina. De qualquer maneira, o autor relata que a fundação do realismo está centrada no pensamento pessimista sobre o progresso moral e as possibilidades humanas.
____Sendo assim, todos os escritores realistas compartilham entre si três premissas sobre a vida política. A primeira é o reconhecimento da natureza conflituosa que permeia as relações internacionais. Neste caso a anarquia é a regra, já a ordem, justiça e a moralidade são as exceções. Mearsheimer contribui para o entendimento das características da anarquia, segundo o ele, em um ambiente anárquico não há instituição internacional capaz de estabelecer a ordem ou punir potenciais Estados agressores, sendo assim todos os Estados são ameaças em potencial. Neste sentido, não há espaço para confiança, cada Estado deve garantir sua sobrevivência, uma vez que a traição em eventuais alianças ou acordos é uma possibilidade. Gilpin relata que na anarquia a arbitrariedade das relações políticas se dá pelo poder, neste caso, Mearsheimer complementa que os Estados para sobreviver procuram maximizar seu poder relativo à outros Estados, assim, procuram oportunidades de enfraquecer adversários em potencial e melhorar a posição de seu poder relativo. O próprio autor reconhece em seu artigo o seu pessimismo em relação à natureza dos Estados.
____A segunda premissa de Gilpin sobre o realismo é que a essência da realidade social é o grupo. Sendo assim, a construção de blocos ou unidades de vida social e política não são resultados do pensamento liberal do indivíduo ou da luta de classes. É na realidade um “conflito de grupos”, onde os seres humanos na disputa por recursos se organizam como membros de um grupo, e não como indivíduos isolados. Assim, os escritores realistas reconhecem o Estado-nação como sendo o “grupo” mais importante do sistema internacional na atualidade. Porém, Gilpin cogita que uma mudança de nome, tamanho e organização destes grupos é possível através das mudanças econômicas e demográficas, e pelos fatores tecnológicos. O que não é possível, segundo o autor, é uma mudança na essência natural do conflito intergrupal.
____A terceira premissa é própria de nossa natureza, Gilpin a define como motivação humana. Sendo assim, o autor expõe que a humanidade é motivada especialmente pelo poder e segurança. Todos os outros valores, bondade, beleza, lealdade serão dispensados ao não haver segurança no duelo pelo poder entre os diferentes grupos sociais.
____Em seu artigo, Gilpin deixa claro que existem diferenças pontuais entre os realistas clássicos e as aproximações realistas mais contemporâneas. Essas diferenças são marcadas pelo contexto histórico em que escreveram os principais autores clássicos, que para Gilpin são Tucídides, Maquiavel e Carr (pode se contestar a definição destes autores como realistas clássicos, uma vez que os mesmos estavam envolvidos em outro contexto). De qualquer maneira, Gilpin exalta que: não há diferenças significativas sobre a natureza do pensamento realista político; procedimentos metodológicos; o papel dos fatores econômicos; a concepção do Estado e a influência da estrutura no comportamento estatal. Sendo assim, não houve uma ruptura entre o realismo clássico e as aproximações contemporâneas, como propõe Ashley.
GILPIN, Robert G. The Richness of the Tradition of Political Realism. International Organization, Vol. 38, No. 2 (Spring, 1984), pp. 287-304Published
Nenhum comentário:
Postar um comentário