“Eu tinha um professor, que era um homem admirável. Ele descrevia a maneira de como o homem se levantou, dizia ele: ‘ele estava de quatro e se levantou’, e ele nos mostrava ficando de quatro, mostrava que as duas mãos sustentavam o corpo, e quando o corpo levantou dizia ele: ‘as mãos perderam a função de sustentar, mas adquiriram a função de pegar’, portanto a mão apareceu. Mas, antes quando estávamos de quatro, a boca tinha a função de pegar, já que as mãos estavam ocupadas, portanto a boca perdeu a função de pegar, não é? Mas ela ganhou a função de falar. E desde que este professor me explicou tal fenômeno, tornei-me um homem otimista, por quê? Porque ouço todo mundo dizer: ‘perdemos o humanismo, perdemos os valores, perdemos a memoria, os jovens já não tem mais memoria, não tem imaginação por causa das imagens, não tem a possibilidade de fazer cálculos, porque existe a calculadora’. Mas é melhor assim, não é? Porque é justamente quando se perde a função, que se percebe que perder a sustentação não é nada, já que os pés dão conta. Mas ganhar as mãos, nos tornou uma espécie que pode ser pianista, ou então cirurgião, ou prestidigitador. As mãos são um órgão extraordinário. Portanto se ganha muito mais do que se perde. Perder isto ou aquilo implica em ganhar coisas extraordinárias. Por quê? Porque de certa maneira, mesmo o cérebro perdeu algumas coisas e esta livre para inventar. E, enquanto historiador da ciência, posso testemunhar isso. É porque no renascimento perdeu-se a memória da erudição, que se inventaram as ciências experimentais. Porque ao invés de copiar as ciências em livros, olhava-se apenas a realidade das coisas. Sou otimista por causa disto.”
Entrevista realizada pelo programa Roda Viva da TV Cultura no dia 7 de novembro de 1999.
pedaços do programa podem ser assistido no site da tv cultura ou no youtube: